Porque o futebol se tornou tão físico?

Quem acompanha o futebol de perto percebeu: o jogo mudou. Está mais rápido, mais intenso e, sobretudo, mais físico. Aqueles momentos em que o craque recebia a bola, levantava a cabeça com calma e decidia o que fazer parecem cada vez mais raros. Hoje, o tempo de decisão é curto, o espaço no campo é mínimo — e todo jogador, seja atacante, zagueiro ou goleiro, precisa ser um verdadeiro atleta.

Do improviso ao alto rendimento

O futebol moderno reduziu o espaço para o improviso e para o individualismo. A velocidade das jogadas, o tempo de posse de bola e a distância percorrida por jogo aumentaram drasticamente. Isso exige que todos os atletas tenham alto nível de resistência, força e explosão — além da habilidade com a bola no pé.

O fisiologista Orlando Laitano explica bem esse novo cenário:

“Quem pratica futebol profissional hoje não é apenas jogador. Precisa ser um atleta de ponta. A capacidade de correr, de saltar e de fazer movimentos com o corpo se aproxima cada vez mais de atletas olímpicos que treinam especificamente uma dessas habilidades.”

O avanço da ciência no futebol

Essa transformação tem raízes profundas no avanço da ciência do esporte. Hoje, clubes contam com tecnologias capazes de medir cada detalhe do corpo de um atleta: desde genética e composição corporal até resistência cardiorrespiratória, potência e tipo de fibra muscular. Isso permite um treinamento muito mais preciso e individualizado.

Bruno Gualano, fisiologista da USP, destaca que o cenário mudou tanto que jogadores de alto nível contam com um estafe particular — além da comissão técnica dos clubes. É um trabalho personalizado, que visa extrair o máximo desempenho físico e prevenir lesões.

A evolução em números

Nos anos 60 e 70, um jogador de linha percorria entre 4 e 5 km por jogo. Hoje, esse número chega facilmente a 12 km — com alguns ultrapassando os 15 km. A constituição física também mudou: jogadores são mais altos, mais fortes e mais potentes.

O médico Paulo Zogaib lembra que, décadas atrás, zagueiros não passavam do meio de campo, laterais pouco atacavam e o centroavante era um “camisa 9 de área”. Agora, todos precisam atacar, defender, marcar pressão e construir jogadas.

Até o goleiro, que antes era praticamente um espectador com luvas, participa ativamente da construção de jogo e precisa ter boa mobilidade fora da área.

Evolução dos jogadores do Barcelona

O Barcelona é um bom exemplo dessa virada. Desde a chegada de Hansi Flick e sua comissão técnica, a equipe espanhola mostra sinais claros de evolução física. Pedri, de apenas 21 anos, é um dos que mais percebeu a mudança. O meia reconhece que o trabalho com os novos preparadores fez a diferença: o time mantém a intensidade até os minutos finais, algo que antes era um desafio. E não é coincidência: treinos mais longos, mais fortes e focados em detalhes individuais estão remodelando o elenco.

Crescimento de Pedri 

A trajetória recente do próprio Pedri é reveladora. O jogador sofreu com uma sequência de lesões musculares nas últimas temporadas, chegando a perder momentos decisivos, como a Eurocopa. Para evitar novas recaídas, o clube decidiu investir em exames avançados nos Estados Unidos, analisando até a genética de sua musculatura. A partir daí, nasceu um plano personalizado, com treinos específicos dentro e fora do clube – inclusive em sua própria academia particular. O resultado já aparece nos números: Pedri lidera o time em distância percorrida na Champions League e se destaca tanto pela resistência quanto pela precisão técnica.

Uma nova revelação se desenvolve 

Mas o caso de Pedri não é isolado. O jovem Lamine Yamal, de apenas 17 anos, também ilustra bem o impacto da preparação física no futebol moderno. Talentoso desde cedo, o atacante precisava desenvolver força e resistência para sobreviver em um jogo cada vez mais veloz e físico. Em poucos meses, ganhou massa muscular, aprimorou a postura em campo e passou a enfrentar duelos com muito mais confiança. Hoje, já treina nos mesmos padrões dos companheiros mais experientes – com cargas adaptadas, mas sem qualquer privilégio.

Essa transformação não é apenas estética ou de resistência. Ela muda a mentalidade. Atletas jovens como Yamal entendem que, sem uma base física sólida, o talento corre risco de ser sufocado pela intensidade do jogo. O futebol de hoje já não permite aqueles segundos de pausa para pensar ou criar. Cada jogada é disputada no limite, cada metro do campo exige explosão, força e foco.

No fundo, o que está acontecendo no Barcelona é um reflexo de uma tendência global: o preparo físico se tornou tão importante quanto a tática e a técnica. Não basta ter visão de jogo ou habilidade com a bola; é preciso correr mais, resistir mais e estar sempre pronto para duelar. É a era dos atletas completos, em que corpo e mente caminham lado a lado para sustentar a excelência dentro de campo.

Tecnologia que mede tudo

Hoje, os clubes e os próprios jogadores têm acesso a:

  • Análise de composição corporal
  • Eficiência de corrida
  • Tipo de fibras musculares
  • Genética esportiva
  • Limiares de velocidade
  • Potência e resistência muscular

Essas informações moldam cada treino. O que antes era genérico, agora é individualizado. Cada atleta treina o que precisa, como precisa, no tempo certo.

Mais físico, mais competitivo

Esse salto de desempenho físico não só aumentou o nível do jogo, como equilibrou as forças no futebol mundial. Se antes o talento brasileiro brilhava com facilidade contra equipes europeias, hoje isso já não é suficiente.

Os adversários evoluíram na marcação, no posicionamento e na intensidade. Resultado? Quem não acompanha esse ritmo, fica para trás.

E isso vale também para os clubes brasileiros. Hoje, quem quiser atuar no futebol — em qualquer função ligada à performance — precisa entender profundamente de fisiologia, treinamento e controle de carga.

O futuro da preparação física no futebol

Os especialistas são unânimes: a próxima fronteira está na base. Iniciar esse trabalho com jovens atletas ainda na adolescência — ou até antes — pode elevar o nível do futebol global nos próximos anos. Não basta ter talento. É preciso ter corpo, mente e preparo para acompanhar o ritmo alucinante do jogo atual.

“Essa é uma daquelas clássicas perguntas do ovo e da galinha. O que veio primeiro: os jogadores viraram atletas e o esporte ficou mais intenso? Ou a intensidade das partidas exigiu que os jogadores aprimorassem cada vez mais a parte física?”, provoca Laitano.

Se você quer entender na prática como é feita essa preparação física de alto rendimento, desde a base até o profissional, e aprender com quem vive isso nos clubes, precisa ir além da teoria.

A Especialização em Preparação Física e Recovery no Futebol  foi criada justamente para quem deseja atuar nesse cenário moderno — dominando os métodos de treino, protocolos de recuperação e tecnologias de ponta utilizadas no futebol atual.

Thiago Patricio
Thiago Patricio
Artigos: 32

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *